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O que é finanças comportamentais e economia comportamental?

A área de finanças está passando por um momento de transição de paradigmas, de uma visão neoclássica para uma visão embasada em aspectos comportamentais. Sendo assim, as finanças comportamentais têm papel fundamental para auxiliar a tomada de decisão de todos envolvidos em decisões financeiras, sejam elas de investimentos ou de gestão, por exemplo.

Entenda o que é finanças comportamentais – termo que hoje já é comumente amplificado para a economia como um todo, a economia comportamental – e como essa área de estudos tem impactado a maneira de compreender o comportamento dos indivíduos diante de decisões financeiras.

Finanças comportamentais e a influência de Paul Slovic

A teoria econômica que predominou durante décadas (e ainda predomina em muitos livros didáticos) é chamada economia neoclássica. Com o tempo surgiram críticas a algumas premissas impostas por esta abordagem, como por exemplo a premissa de racionalidade dos agentes econômicos, bem como questionamentos sobre a ideia de que os agentes sempre buscam maximizar o retorno e reduzir o risco.

O que é finanças comportamentais e economia comportamental?

De acordo com Shefrin (2010), o primeiro artigo formalmente publicado no campo de finanças comportamentais foi o de Slovic (1972). No entanto, apenas após a década de 80 foi que os teóricos da área financeira ao redor do mundo começaram a adotar mais os fatores comportamentais em suas pesquisas.

Slovic (1972) explica que em nenhuma outra área de estudo há tanta informação disponível, oriundas de diversas fontes e que podem provocar influências sobre as decisões.


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Além do mais, até a década de 1970, pouca atenção era dada aos problemas de interpretação ocasionados pela quantidade enorme de informação gerada. Slovic (1972) argumenta fortemente que fatores psicológicos afetam o processo decisório, principalmente pela inviabilidade de processar tanta informação disponível.

Nos termos de Slovic (1972):

pela falta de conhecimento psicológico os investidores acabam se tornando “psicólogos amadores”, por meio de suas próprias experiências.

A contribuição de Daniel Kahneman e Amos Tversky

Nesta época alguns questionamentos começaram a ser levantados a respeito da teoria econômica predominante (a Teoria da Utilidade Esperada – TUE), com uma ênfase para os pesquisadores Daniel Kahneman e Amos Tversky.

Na época, a Teoria da Utilidade Esperada (TUE) refletia seus princípios e pressupostos na área de finanças, especialmente no que diz respeito ao comportamento dos investidores.

Para a TUE, os investidores agem conforme o conceito de homo economicus: o tomador de decisões conhece todas as decisões e resultados possíveis na decisão a ser tomada, percebe diferenças sutis existentes entre as opções e age de forma totalmente racional com relação à escolha das opções disponíveis.

Kahneman e Tversky (1979) desenvolveram a chamada teoria do prospecto como alternativa à TUE.

Daniel Kahneman e Amos Tversky afirmam que nem todos os investidores são racionais e avessos ao risco em todas suas decisões, como assume a TUE.

O artigo dos psicólogos de 1979 resultou no artigo mais citado de todos os tempos do reconhecido periódico “Econometrica, com direito ao prêmio Nobel de economia no ano de 2002 a Daniel Kahneman.

Resumidamente, a principal contribuição da teoria do prospecto para as finanças comportamentais e economia comportamental foi a inclusão de um ponto de referência para diferenciar ganhos de perdas (a TUE não fazia a distinção de ganhos e perdas no impacto causado na função utilidade).

Kahneman e Tversky perceberam que as pessoas se comportam de maneiras diferentes em cenários de ganhos – com maior aversão ao risco – em relação a cenários de perdas – maior propensão ao risco.
 

O padrão quádruplo e tendências das finanças comportamentais

Na versão inicial da teoria do prospecto, Kahneman e Tvesrky (1979) trataram da existência de um comportamento de aversão ao risco diante de ganhos e propensão ao risco diante de perdas. Porém, os próprios autores incorporaram melhorias à teoria do prospecto anos depois.

A teoria do prospecto cumulativa, apresentada por Tversky e Kahneman (1992), permite atribuir diferentes ponderações para ganhos e para perdas.

Conforme explicam Harbaugh (2009), duas premissas centrais da teoria do prospecto cumulativa são que: (i) os indivíduos são avessos ao risco para perdas e propensos ao risco para ganhos; mas também que (ii) tendem a superestimar eventos com baixa probabilidade de ocorrência e subestimar a possibilidade de eventos com alta probabilidade se tornarem realidade.

Harbaugh (2009) complementam que a combinação dessas duas premissas pode resultar em um único padrão de comportamento diante de decisões sob risco: o padrão quádruplo.

O padrão quádruplo resume as decisões que envolvem risco em quatro padrões:

  • propensão ao risco em baixa probabilidade de ganho: há esperança de ocorrência de um grande ganho;
  • aversão ao risco em alta probabilidade de ganhos: há um medo de decepção;
  • aversão ao risco em baixa probabilidade de perda: medo de grande perda;
  • propensão ao risco diante de alta probabilidade de perdas: esperança de evitar perda.

Enfim, o que é finanças comportamentais?

Finanças comportamentais é o campo que estuda a influência da psicologia no comportamento daqueles que praticam as finanças e o consequente efeito deste comportamento nos mercados (SEWELL, 2007).

Veja algumas outras definições de autores conhecidos:

  • Shefrin (2010): Vista como um campo, finanças comportamentais é a aplicação da psicologia ao processo de tomada de decisões financeiras e aos mercados financeiros. Vista como um processo, finanças comportamentais é a situação intermediária entre o antigo paradigma neoclássico e um novo paradigma baseado em fundamentos psicológicos.
  • Barberis e Thaler (2003): Trata de uma abordagem alternativa para o estudo dos mercados financeiros, em resposta, pelo menos em parte, às dificuldades encontradas pelo paradigma tradicional das finanças modernas.
  • Shleifer (2000): Campo que se dedica a compreender a falibilidade humana em mercados competitivos.

Mais conteúdo sobre o comportamento do investidor

Confira a seguir uma lista com alguns artigos deste blog e continue aprendendo sobre finanças comportamentais.

1- DUAS FORMAS DE PENSAR: SISTEMA 1 E SISTEMA 2 – Tomamos decisões com base em dois sistemas. O primeiro é rápido e intuitivo; e o segundo é lento, mas mais racional. Veja como isso se aplica para o mundo das finanças.

2- LISTA DE VIESES COGNITIVOS – Existem erros de decisão, chamados de vieses, que fazem parte do processo decisório da maioria das pessoas. Se não observados, estes vieses podem gerar graves impactos negativos nos investimentos.

3- HEURÍSTICAS E VIESES: ATALHOS E ERROS NA TOMADA DE DECISÃO – As heurísticas são atalhos mentais que agilizam as decisões. Porém, elas podem conduzir o investidor a vieses de comportamento.

4- TEORIA DO PROSPECTO (OU TEORIA DA PERSPECTIVA) – Esta teoria foi desenvolvida pelos psicólogos Kahneman e Tversky e deram origem ao campo das finanças comportamentais. Entre outras contribuições, ela mostra que as pessoas se comportam de forma diferente em um cenário de ganhos em relação a um cenário de perdas. Isso se deve pela existência de um ponto de referência para a tomada de decisão financeira.

5– EFEITO MANADA E GROUPTHINK: SEGUINDO AS MASSAS – Enquanto o efeito manada fala de fazer aquilo que os outros fazem sem saber exatamente a razão, o groupthink trata da tomada de decisão sendo influenciada pelo comportamento em grupos.

6- O QUE É O EXCESSO DE CONFIANÇA E O VIÉS DO OTIMISMO? – O excesso de confiança fala da superestimação dos resultados esperados em relação a um bom desempenho passado (como o ganho em operações no mercado de ações, por exemplo); já o viés do otimismo trata de uma superestimação em relação a variáveis não controláveis, como a inflação, taxa de juros, entre outros.

7- O QUE AS CURVAS DE INDIFERENÇA NÃO MOSTRAM? – As curvas de indiferença são velhas conhecidas em disciplinas introdutórias à economia. Porém, o que elas não mostram é a existência de um ponto de referência, que influencia significativamente a tomada de decisão do agente econômico.

Referências

Barberis, N., & Thaler, R. (2003). A survey of behavioral finance. In Handbook of the Economics of Finance (pp. 1053–1128). North-Holland: Elsevier.
Harbaugh, W. T., Krause, K., & Vesterlund, L. (2009). The fourfold pattern of risk attitudes in choice and pricing tasks. The Economic Journal, 120(545), 595–611.
Sewell, M. (2007). Behavioural Finance. London: University Collegge London.
Shefrin, H. (2010). Behavioralizing finance. Hanover: Now Pub.
Shleifer, A. (2000). Inefficient markets: an introduction to behavioral finance. New York: Oxford University Press Inc.
Slovic, P. (1972). Psychological study of human judgment: Implications for investment decision making. Journal of Finance, 27(4), 779–799.
Tversky, A., & Kahneman, D. (1992). Advances in prospect theory: cumulative representation of uncertainty. Journal of Risk and Uncertainty, 5(4), 297–323.

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