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O que as curvas de indiferença não mostram?

Em disciplinas introdutórias de economia, as curvas de indiferença sempre aparecem. Uma curva de indiferença mostra diversas possibilidades de combinações de bens, de tal forma que o consumidor se torna indiferente a optar por qualquer uma delas.

Logo, em uma curva de indiferença não há preferência entre uma combinação ou outra dentro de uma única curva, pois todas as possibilidades resultam em um mesmo nível de satisfação, ou seja, a utilidade permanece constante.

Um exemplo de curva de indiferença

Podemos supor que um indivíduo qualquer possui um nível de educação “x”, representado pela curva azul da figura a seguir.

As curvas de indiferença não consideram o ponto de referência.

Tal nível de educação leva o indivíduo a escolher um determinado estilo de vida que lhe proporciona uma certa renda e uma determinada quantidade de dias de folga por mês.

Também podemos supor que, dentro desta curva na qual o indivíduo se encontra (linha azul), quanto menos dias ele folgar em seu trabalho, maior será a sua renda ao final do mês.

Além disso, caso esta pessoa decida se especializar na sua área ou opte por não estudar e se tornar desatualizado em sua profissão, a curva de renda

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dias de folga será alterada para a direita ou para a esquerda, respectivamente.

Neste exemplo, a curva de indiferença será convexa, pois indica a diminuição da utilidade marginal, ou seja, quanto mais dias de descanso um indivíduo possui, menos ele dá valor a um dia extra de folga.

Mas o que há de errado com as curvas de indiferença?

Digamos que o indivíduo em questão opte pelo ponto “A” da curva e trabalhe por alguns anos desta forma, ou seja, com a mesma renda e com os mesmos dias de folga (para fins de exemplificação podemos supor um mercado onde não existe inflação, fazendo com que não ocorra alteração no poder de compra deste indivíduo).

Segundo a teoria econômica neoclássica, esta pessoa não iria se importar de, em qualquer momento, alterar sua posição do ponto “A” para o ponto “B”, dentro da mesma curva de utilidade. Sendo assim, o indivíduo do exemplo deveria ser indiferente em relação a ganhar menos mas com mais dias de folga, mesmo se já estivesse acostumado a viver com um nível maior de renda e com menos dias de descanso.

Embora as curvas de indiferença sejam muito utilizadas na economia, no exemplo citado e em vários outros, tais curvas representam uma situação não realística. Por exemplo, embora a teoria econômica diga que o indivíduo do exemplo não se importaria de mudar do ponto A para qualquer outro ponto da mesma curva, sabemos que isso não acontece no dia-a-dia, pois nem sempre uma pessoa estaria disposta a abrir mão de uma renda mais elevada em troca de mais dias de lazer. Isto ocorre porque os seres humanos, de forma geral, ao tomarem suas decisões, levam em consideração um ponto de referência baseados no contexto em que estão envolvidos.

O ponto de referência pode representar a resistência que as pessoas possuem à mudanças, ou seja, o status quo, a situação atual. A ideia de que os seres humanos decidem com base em um ponto de referência foi uma das principais contribuições da Teoria do Prospecto.


No exemplo apresentado, o fato de o indivíduo migrar do ponto “A” para o ponto “B” representa uma perda, pois o ponto “A” se tornou um ponto de referência. Assim, dentro da curva de indiferença representada pela linha azul, esta pessoa provavelmente não aceitará ganhar menos em troca de mais dias de folga.

Uma das explicações para a ocorrência desse comportamento é o viés da aversão à perdas, que diz que as pessoas atribuem um valor cerca de duas vezes maior para uma perda do que para um ganho na mesma proporção.

Considerações

A análise das curvas de indiferença se torna incompleta na medida em que consideramos a necessidade de incluir um ponto de referência. É este ponto que fará com que um indivíduo entenda algo como um ganho ou como uma perda. Portanto, aquilo que estiver acima (ou abaixo) do ponto de referência será considerado um ganho (ou uma perda).

Referências

Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar: duas formas de pensar (p. 607). Rio de Janeiro: Objetiva.