A teoria de Markowitz, conhecida também como teoria da carteira ou teoria do portfólio, teve como grande diferencial apresentar o conceito de fronteira eficiente, demonstrando matematicamente os benefícios de ter uma carteira diversificada.
Quando o assunto é risco e retorno, podemos calcular o retorno de uma carteira de investimentos pela média ponderada dos retornos dos ativos.
Porém, a teoria do portfólio mostra que o risco de uma carteira não é dado simplesmente pela média do risco (medido pelo desvio-padrão) dos ativos individuais, pois é preciso considerar a correlação existente entre os ativos. Sendo assim, pode-se dizer que a “palavra-chave” que permeia a teoria de Markowitz é o conceito de diversificação, pois é este mecanismo que viabiliza reduzir o risco da carteira.
Siga a leitura deste artigo e entenda em detalhes a Teoria da Carteira de Harry Markowitz e os principais conceitos envolvidos, como a Carteira de Mínima Variância e a Fronteira Eficiente.
Quem é Harry Markowitz?
Harry Markowitz concluiu seu doutorado em economia pela Universidade de Chicago no ano de 1954, é autor de inúmeros livros e artigos científicos. Foi laureado, em 1990, com o prêmio Nobel de Economia, devido a sua contribuição na análise de risco e retorno de ativos financeiros.
Pode-se dizer que Harry Markowitz formalizou matematicamente a máxima de “não colocar todos os ovos em uma única cesta” para o contexto financeiro. Ele afirma que deve-se levar em conta a diversificação do risco na construção de portfólios, e que é possível construir uma série de portfólios, nos mais variados níveis de retorno exigidos, que sejam otimizados para a redução do risco.
A seguir serão mostrados mais detalhes a respeito de como a teoria de Markowitz trabalha cada um desses pontos: risco da carteira, minimização do risco, fronteira eficiente, etc.
A teoria de Markowitz (teoria da carteira)
Assaf Neto (2007) explica que a teoria de Markowitz faz parte do processo de avaliação de carteiras de investimentos, o qual envolve três grandes fases:
(i) a análise dos títulos, que trabalha com os fundamentos da avaliação de ativos, em que costuma-se encontrar o valor intrínseco de um título por descontar os fluxos futuros a uma taxa de atratividade;
(ii) a análise de carteiras, que envolve projeções de retorno esperado e do risco de um conjunto de ativos;
(iii) e a seleção de carteiras, que por sinal é o título do artigo de Markowitz (1952) – Portfolio Selection–, estuda a melhor combinação possível dos ativos analisados e sugere uma alocação de ativos dentro de uma carteira que maximize a satisfação do investidor. Na teoria de Markowitz essa satisfação é definida com base no que seria um “investidor racional”, que busca que seu risco seja mínimo para um dado nível de retorno.
Risco de uma carteira
Na época – em torno de 1952, quando o artigo “Portfolio selection” foi publicado – o risco de um ativo financeiro era medido pelo seu desvio-padrão. Ainda hoje, apesar de existirem diversas outras métricas, o desvio-padrão ainda é utilizado.
Nesse sentido, um dos principais pontos levantados na teoria de Markowitz é que o risco de um ativo medido isoladamente torna-se diferente quando esse ativo é incluído em uma carteira.
Em palavras do dia a dia, não se pode calcular o desvio-padrão de uma carteira simplesmente somando ou obtendo a média dos desvios de cada ativo isoladamente.
Isso ocorre porque há correlação entre as movimentações de diversos ativos financeiros. Para propor uma maneira de mensurar o risco de uma carteira foi que surgiu a teoria de Markowitz, a qual traz a equação do risco (desvio-padrão) de uma carteira de dois ativos (A e B) como sendo a seguinte:
Veja agora que se a carteira fosse composta por 3 ativos, a equação ficaria assim:
Sendo que é o risco, ou desvio-padrão da carteira; é o peso do ativo na carteira, ou seja, a participação percentual em relação ao total da carteira; é a variância de dado ativo e é a covariância do ativo A com o ativo B.
Diversificação: a grande vantagem de utilizar estes cálculos!
A teoria de Markowitz mostrou que na medida em que o investidor diversifica sua carteira, escolhendo ativos com correlação negativa, ele consegue reduzir, ou até eliminar (pelo menos na teoria) o risco diversificável (risco não sistemático).
A razão pela qual a diversificação melhora a relação risco e retorno é que, na medida em que novos ativos são adicionados a uma carteira de investimentos, o risco total, medido pelo desvio-padrão da carteira apresentado anteriormente, é reduzido. Já o retorno da carteira é determinado pela média ponderada dos retornos dos ativos individuais.
O risco diversificável (não sistemático) e risco não diversificável (sistemático)
O risco diversificável é aquele que pode ser eliminado por meio da diversificação da carteira.
Já o risco não diversificável é decorrente de questões sistêmicas. Como o nome fala, e refere-se a problemas macroeconômicos, desastres naturais, crise financeira, alta da inflação, entre outros.
A figura a seguir exemplifica bem como fica o risco da carteira em relação ao número de ativos que a compõem.
O princípio da dominância
O princípio da dominância afirma que o investidor racional prefere o investimento que proporcione o maior retorno esperado para o mesmo nível de risco. Ou ainda o menor risco para o mesmo retorno esperado.
Observe a figura:
Com base nesse princípio, na figura acima é possível obter as seguintes conclusões:
- o ativo 2 domina o 1;
- o ativo 4 domina o 3;
- o ativo 2 domina o 3;
Contudo, nada pode-se dizer sobre o ativo 2 e o 4 e nem sobre o 1 e o 3! A escolha de um desses ativos dependerá do nível de aversão ao risco do investidor!
A carteira de mínima variância e a fronteira eficiente
Ao aplicarmos o princípio da dominância para todas as combinações possíveis de carteiras, chegamos a um dos pontos principais da teoria do portfolio de Markowitz: a “Carteira de Mínima Variância” (CMV).
O processo para encontrar a carteira de mínima variância (CMV) se resume em encontrar o portfólio ótimo através de um ponto de mínimo (derivada). Este portfólio será o de menor desvio-padrão dentre todas as combinações possiveis.
A partir da CMV, se fizermos um ponto em todas as combinações de ativos que possuem o menor nível de risco (desvio-padrão) para qualquer retorno superior ao da CMV, obteremos a “fronteira eficiente de Markowitz“.
Tanto a carteira de mínima variância, quanto a fronteira eficiente, são expressas no gráfico a seguir:
Conclusão
A teoria de Markowitz foi um marco histórico na literatura de finanças. O Capital Asset Pricing Model, entre outros modelos de apreçamento de ativos e diversas outras teorias emergiram baseadas nos pressupostos da teoria da carteira de Markowitz de que o investidor é racional e busca sempre reduzir o risco para um dado nível de retorno.
Posteriormente, com o advento das finanças comportamentais, percebeu-se que na verdade os investidores são sujeitos a heurísticas e vieses cognitivos que interferem o processo de tomada de decisão.
Para leitores mais interessados, Shefrin e Statman (2000), ícones das finanças comportamentais, desenvolveram a chamada “teoria comportamental da carteira”, que justamente traz aspectos psicológicos da tomada de decisão para um contexto de avaliação de ativos e análise de risco e retorno.
Referências
Assaf, N. A. (2007). Mercado financeiro. São Paulo: Editora Atlas.
Markowitz, H. (1952). Portfolio selection. The Journal of Finance, 7(1), 77–91.
Shefrin, H., & Statman, M. (2000). Behavioral portfolio theory. Journal of Financial and Quantitative Analysis, 35(2), 127–151. Ler.
Olá, poderia me ajudar na solução da questão abaixo:
Com o objetivo de reduzir o risco da carteira o investidor deveria optar por qual ativo?
Ativo A – Desvio Padrão 4% e correlação com a carteira igual -0,45
Ativo B – Desvio Padrão 2% e Correlação com a carteira igual 0,30.
Agradeço se puderes me ajudar.
Olá Juarez. Por ter correlação negativa eu iria no Ativo A. Mas para dar uma resposta mais assertiva teria que olhar também para o percentual de cada ativo que irá compor a carteira.
Há um pequeno erro de notação: O sigma não é elevado ao quadrado, pois representa o desvio padrão e não a variância. Você deve mudar a notação ou eliminar o símbolo da raiz quadrada. Abaixo uma demonstração de como chegar na fórmula para três ativos.
Luis Fernando, obrigado pela correção. Agora está arrumado no texto! Abs!
Não é possível comentar.