Vieses cognitivos são erros sistemáticos do processo de tomada de decisão, que ocorrem quando estamos processando e interpretando informações ao nosso redor.
Veja também o vídeo a seguir a respeito do tema.
Os vieses cognitivos podem ser causados por heurísticas, isto é, atalhos mentais. No entanto, outros fatores como pressões sociais, motivações individuais, emoções e limitações na habilidade mental de processar informações podem contribuir para a ocorrência de vieses cognitivos na tomada de decisão.
O propósito deste texto é apresentar de forma sucinta uma lista de vieses cognitivos que podem interferir no processo decisório, com suas respectivas definições e publicações científicas relevantes. O foco é apresentar vieses que interferem na tomada de decisão de investimentos. Contudo, a maior parte pode ser generalizada para variadas situações do dia a dia.
Aversão a perdas
Este viés cognitivo indica que o impacto de uma perda é maior que o impacto de um ganho na mesma proporção. Em outras palavras, o medo de perder costuma superar a satisfação de ganhar.
Estudos mostram que este impacto costuma ser em média duas vezes maior para o campo das perdas (Kahneman e Tversky, 1979) – especificamente, a perda tende a gerar um impacto 2,25 vezes maior que um ganho. A aversão a perdas pode conduzir a outros vieses cognitivos, como o efeito disposição, o efeito dotação ou ainda o status quo.
Principais referências
Custos afundados
Os custos afundados (sunk costs) manifestam-se na forte tendência a continuar um empreendimento uma vez que um investimento em dinheiro, esforço ou em tempo já tenha sido realizado. Os sunk costs resultam em uma insistência em projetos que não estão correspondendo às expectativas. Quem nunca utilizou a frase: “já que chegamos até aqui, vamos até o fim!”?
Principais referências
Efeito disposição
Este viés cognitivo representa a tendência a realizar ganhos de forma rápida e reter ativos perdedores por bastante tempo em carteira.
O efeito disposição pode tanto ser resultado de motivações racionais quanto de motivações comportamentais. As racionais incluem rebalanceamento de carteiras, informações privadas sobre o valor fundamental de uma ação e custos de transação.
Entre as motivações comportamentais do efeito disposição encontram-se a teoria do prospecto, a crença na reversão à média, a contabilidade mental e a aversão ao arrependimento.
Odean (1998) mostrou que mesmo quando todas as motivações racionais citadas foram controladas, os investidores analisados continuaram a manifestar o efeito disposição.
Principais referências
Efeito dotação
O efeito dotação é um viés cognitivo que indica que a disposição para aceitar (willingness to accept – WTA) um bem é geralmente superior à disposição para pagar (willingness to pay – WTP) pelo mesmo bem. Significa que as pessoas exigem mais para desistir de um objeto de sua propriedade do que estariam dispostas a pagar pelo mesmo. Este viés pode conduzir ao status quo.
Principais referências
Excesso de confiança
As pessoas tendem a sobreavaliar suas próprias habilidades, o que provoca um comportamento de maior propensão ao risco. No mercado este viés de decisão pode conduzir a um aumento do número de transações individuais e refletir em altas excessivas dos preços, bem como em bolhas especulativas.
Menkhoff et al. (2013) afirmam que na literatura de finanças o excesso de confiança tem sido tratado com pelo menos três abordagens diferentes. A primeira refere-se a uma subestimação da variância de variáveis aleatórias (má-calibração). A segunda diz respeito a uma positiva e irreal auto-avaliação. A terceira abordagem está relacionada com uma ilusão de controle. Todos estes aspectos conduzem a uma sistemática superestimação da precisão do próprio conhecimento e da probabilidade de sucessos pessoais.
Principais referências
House Money
O efeito house money afirma que o grau de aversão a perdas do investidor depende de seus ganhos e perdas anteriores.
Conforme este viés cognitivo, uma perda que vem após um ganho anterior é menos dolorosa do que o oposto, pois ela é amenizada por tal ganho precedente. Ao contrário, uma perda que vem após uma perda anterior é mais dolorosa. Este comportamento reflete em uma menor aversão ao risco após um ganho e uma maior aversão ao risco após uma perda (Lucchesi, 2010).
Principais referências
Otimismo
Os termos excesso de confiança e otimismo são próximos e algumas vezes utilizados conjuntamente e sem distinção. No entanto, existem autores que fazem algumas diferenciações.
Malmendier e Tate (2005) afirmam que o excesso de confiança está relacionado com a superestimação das próprias habilidades, como QI ou habilidades de gestão. Já o excesso de otimismo é um viés que está relacionado com a superestimação pessoal acerca de resultados exógenos, que não podem ser controlados por um indivíduo, como o crescimento econômico de um país ou as oscilações no mercado de capitais, por exemplo.
Uma das consequências do otimismo exagerado, refletido em um comportamento superconfiante, é a pausa na realização de esforços antes que o objetivo previamente definido seja alcançado (Metcalfe, 1998).
Principais referências
Status quo
Viés cognitivo que representa uma tendência que temos em manter a situação atual, isto é, resistência à mudança.
Samuelson e Zeckhauser (1988) citam alguns exemplos de decisões em que se opta pelo status quo: seguir a política habitual da empresa, eleger um candidato à reeleição, comprar sempre a mesma marca de determinado produto ou permanecer no mesmo emprego.
Os indivíduos possuem uma forte tendência a manter o status quo, pois as desvantagens de sair da posição atual parecem muito maiores que as vantagens.
A aversão a perdas e a aversão ao arrependimento podem representar causas para a existência desta tendência de manter o estado atual (Kahneman, Knetsch e Thaler, 1991).
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