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O que é gestão de estoque na administração financeira?

Muito comum em empresas do comércio e em indústrias, o estoque costuma ocupar um espaço relevante na conta do ativo circulante dentro do balanço patrimonial das empresas. Mas o que é gestão de estoque e qual é a relação com a administração financeira?

Existem diversos métodos de gestão de estoques. Nesse artigo vamos abordar os dois principais: sistema ABC e lote econômico de compra.

Gestão de estoques na administração financeira

Por que a gestão de estoques é importante para as finanças de uma empresa?

Dependendo do ramo de atividades, e também da política de gestão de para controle de estoques, a empresa pode manter um nível maior ou menor de estoques. Empresas de tecnologia e bancos, por exemplo, mantém nenhum ou pouquíssimo estoque. Indústrias e empresas do comércio, por outro lado, precisam ter mais cuidado com este tema, para não manterem estoques exagerados e nem deixarem faltar insumos e produtos necessários.

O controle de estoques é assunto para a administração de materiais, mas a preocupação da gestão financeira com esta área relaciona-se com o fato de que quanto maior a quantidade de estoques que a empresa possui, maior é a quantidade dinheiro que fica “parado”, seja na forma de matéria-prima, insumos e componentes, ou como produto acabado.

No modelo de administração fordista ainda não havia preocupação com o excesso de estoques. Era comum as organizações se preocuparem em produzir, e depois em vender, mantendo níveis elevados de estoque.

Posteriormente, com o advento do toyotismo no Japão – principalmente após a década de 1970 –, emergiram diversos modelos que se preocupam em reduzir o valor do dinheiro que fica investido em estoques, como o Kanban e o Just-in-time.

A gestão de estoques e o balanço patrimonial

No balanço patrimonial das organizações, “estoque” é uma conta do ativo circulante. Ou seja, dentro da administração financeira, o estudo da gestão de estoques faz parte das finanças corporativas de curto prazo.

A tabela a seguir mostra a razão entre o saldo da conta estoques e o total do ativo circulante para diferentes empresas listadas em bolsa. Da bolsa brasileira (BM&FBovespa) a tabela tem dados da Gerdau, Petrobrás, Lojas Americanas e Lojas Renner; já da bolsa de tecnologia americana, a NASDAQ, a tabela mostra dados da Apple e da Microsoft.

Estoque / Ativo circulante 2015 2014 2013 2012
Gerdau (GGBR4) 39,6% 42,9% 46,8% 55,0%
Lojas Americanas (LAME4) 28,1% 28,7% 27,5% 25,9%
Petrobrás (PETR4) 17,15 22,6% 27,0% 25,2%
Lojas Renner (LREN3) 16,7% 17,5% 16,9% 18,2%
Apple (AAPL/NASDAQ) 2,0% 2,6% 3,1% 2,4%
Microsotf (MSFT/NASDAQ) 1,6% 2,4% 2,3% 1,9%

As considerações que podemos obter pela análise da tabela é que empresas industriais e também as comerciais tendem a manter níveis de estoques mais elevados, justamente pela característica do seu negócio.

A Gerdau, por exemplo, nos últimos 4 anos tem reduzido seu nível de estoques em relação ao total do ativo circulante, de 55% para 39%, mas mesmo assim é uma grande quantidade de dinheiro envolvida neste item do ativo circulante. Já no caso da Microsoft, por exemplo, a conta estoque não representou mais do que 2,4% do ativo circulante nos últimos 4 anos.

Sistemas de gestão de estoque

Sistema ABC

Para falar da curva ABC, ou do sistema ABC, é preciso falar do princípio de Pareto. Vilfredo Pareto foi um sociólogo e cientista político italiano. Ele percebeu em um de seus estudos que a distribuição da renda da população não era uniforme. Ou seja, cerca de 80% da renda estava na mão de 20% das pessoas.

Posteriormente, percebeu-se que esta ideia era aplicável a diversos outros contextos. Então, generalizando, o princípio de Pareto pode ser resumido na seguinte frase: “cerca de 80% dos efeitos são originados por aproximadamente 20% das causas”. Em alguns casos utiliza-se a relação 70-30 e não 80-20.

Veja alguns exemplos: “70% dos dias eu uso 30% das minhas roupas”; “80% das vezes que almoço fora eu frequento 20% dos restaurantes que conheço”; “70% das visitas do meu site são geradas por 30% das páginas”; “80% das vendas da minha empresa vem de 20% dos meus produtos”.

A curva ABC trata-se da aplicação do princípio de Pareto no contexto da gestão de estoques. A frase que resume a ideia da curva ABC ficaria algo como “70% do valor investido em estoque na minha empresa vem de 30% dos itens”.

Neste método as letras A, B e C representam grupos de itens do estoque em relação ao valor total de investimentos feitos:

  • Grupo A: poucos produtos, mas que requerem a maior parte dos investimentos;
  • Grupo B: uma quantidade de itens um pouco menor e com um pouco menos de representatividade que os itens do grupo A, mas ainda deve-se prestar atenção nestes itens;
  • Grupo C: uma grande quantidade de itens, mas que não representam muito valor investido.

A tabela abaixo mostra resume a ideia da curva ABC aplicada à gestão de estoques:

Grupo Valor investido em estoque(% do total) Quantidade de itens (% do total)
A 70% 10%
B 20% 20%
C 10% 70%

O valor investido em estoque pode ser medido como uma multiplicação do valor unitário pela quantidade do item em estoque. Depois disso é feita uma classificação decrescente do valor investido e são encontradas as proporções para categorizar o produto nas classes A, B e C.

Ao definir quais itens fazem parte dos grupos A, B ou C, a empresa consegue saber quais itens são mais relevantes e devem ter uma dedicação maior envolvida.

Lote econômico de compra (LEC)

Na gestão de estoque, o lote econômico de compra (LEC) é a quantidade a ser comprada de um produto que irá minimizar os custos de estocagem. Para isso são considerados os custos operacionais e financeiros gerados pela compra de um produto.

A fórmula do LEC é derivada a partir da equação do “custo total”, que na gestão de estoque é encarado como o custo de comprar mais o custo de manter um item estocado. A equação do lote econômico de compra (LEC) é dada pela seguinte expressão:

    \[LEC = \sqrt{\frac{2\times Q \times CCe}{CMe}}\]

Sendo que Q é a demanda, ou seja, a quantidade de itens que a empresa precisa do produto em análise; CCe é o custo de comprar por encomenda (também chamado de custo do pedido) e CMe é o custo unitário de manter o produto.

Exemplo de LEC

Suponha que, mensalmente, a empresa precisa de 3.000 unidades (Q) de um item que custa R$ 50,00 (CCe). A empresa estima o custo de manter este produto estocado (CMe) em R$ 0,50 por mês para cada unidade. Veja como ficam esses dados na equação do LEC:

    \[LEC = \sqrt{\frac{2\times 3.000 \times 50}{2}}=775 \text{ unidades}\]

Para encontrarmos quantos serão feitos mensalmente dividimos 3.000 pelo LEC. O resultado será [latex]3.000/775=3,87[\latex], ou seja, praticamente um pedido por semana. Lembrando que o LEC supõe que a entrega do produto é imediata.

Considerações finais

Este artigo apresentou o que é gestão de estoque no contexto da administração financeira. O estudo deste assunto justifica-se, como mostrado, no fato de que diversas empresas (principalmente as comerciais e industriais) têm um valor significativo investido na conta “estoques” do ativo circulante. Portanto, utilizar os métodos disponíveis para a gestão de estoques é fundamental no dia a dia de um bom gestor financeiro.

Referências

Lemes Junior, A. B., Rigo, C. M., & Cherobim, A. P. M. S. (2005). Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas trabalhistas (2nd ed.). Rio de Janeiro: Elsevier.